Lino

Λίνος Linus Epicus
Héracles ataca LinoHéracles ataca Lino

Os antigos relatos sobre a origem e a vida do músico Lino são bastante divergentes e podem eventualmente se referir a mais de um personagem com o mesmo nome.

Uma dessas referências considera Lino (gr. Λίνος) filho da musa Calíope e de Eagro, rei da Trácia, e portanto irmão de Orfeu (Apolodoro 1.3.2); outra, filho da musa Urânia e de Anfímaro, filho de Posídon (Pausânias 9.29.6), ou de Urânia e Hermes (Diógenes Laércio 1.4); outra, filho da musa Terpsícore e de Apolo (Suidas s.v. Λίνος); outra, filho de Apolo e de Psâmate, uma princesa argiva (Pausânias 1.43.7); outra, ainda, filho de Apolo e de Toósa (Certamen 4)[1] — e há mais...

Mitos

De acordo com praticamente todos os relatos, Lino era um músico ímpar e é considerado pelos autores antigos o inventor do ritmo e de várias melodias, em especial canções tristes e lamentos. Seus mitos se relacionam com a Argólida, a Beócia e a Eubeia, mas em geral ele é considerado tebano (Diógenes Laércio 1.3). Foram seus discípulos: Héracles, Tamiris, Orfeu (Diodoro Sículo 3.67) e, talvez, Museu (infra).

Uma das lendas mais conhecidas é a da tentativa de ensinar música (ou a escrita, Teócrito 24.105-6) ao jovem Héracles, que não tinha tendências intelectuais de qualquer natureza. Conforme as ideias educacionais da época, Lino espancava o aluno com frequência, dada sua pouca aplicação nos estudos musicais. Como paciência e resignação também não faziam parte das virtudes do jovem herói, certo dia ele finalmente se irritou com o velho mestre e o matou com a própria lira (Apolodoro 2.4.9; D.S. 3.67).

Outra versão, provavelmente de origem beócia, conta que Lino tentou rivalizar com Apolo e o deus, irritado com a pretensão, o matou (Paus. 9.29.6) na Eubeia, com uma flecha (Diógenes Laércio 1.4).

Bem menos conhecido é o mito do Lino filho de Psâmate e Apolo (Conon 19; Pausânias 1.43.7), que se relaciona com um culto de Argos; trata-se certamente de outro Lino. A princesa Psâmate engravidou e teve um filho às escondidas, com medo de seu pai Crotopo, o rei de Argos. Ela então expôs a criança, logo salva e criada por um pastor, mas posteriormente o menino foi morto por cães. Crotopo acabou descobrindo tudo por causa da tristeza de Psâmate e condenou a filha à morte, sem acreditar naquela história de ser Apolo o pai da criança. Mas o deus enviou uma peste e os habitantes de Argos, orientados pelo oráculo do próprio deus, homenagearam Psâmate e Lino com sacrifícios, cantos lamentosos e um dia de festividades, mas a praga só desapareceu quando Crotopo deixou Argos e foi se estabelecer em outro lugar.

Um pouco além dos mitos

Lino também pode ser, por outro lado, apenas uma personificação do canto ateniense homônimo, triste e lamentoso, e nesse caso se trata de assimilação bem antiga, que remonta talvez à Ilíada (18.569-70), a Hesíodo (bTΣ Ilíada 18.570c; Clemente de Alexandria, Strom. 1.4.25; Suidas s.v. λ 570), a Heródoto (2.79) e a Eurípides (Orestes 1395-99).

Diógenes Laércio (1.4) afirma que Lino compôs um poema sobre a origem do mundo, o curso do Sol e da Lua e a gênese dos animais e das plantas, e conservou a primeira frase do poema: ἦν ποτέ τοι χρόνος οὗτος, ἐν ᾧ ἅμα πάντ' ἐπεφύκει, ‘houve um tempo em que tudo era criado ao mesmo tempo’. O mais provável, no entanto, é que se trate de uma atribuição tradicional cuja origem Diógenes Laércio ignorava. Pausânias (8.18.1 e 9.29.7) era bem mais cético do que Diógenes Laércio, pelo menos nesse assunto...

Na época clássica, tratados filosóficos e místicos foram atribuídos a Lino, talvez por identificação com Orfeu, que em pelo menos uma das versões do mito era considerado seu irmão (Apollod. 2.4.9). Dizia-se, ainda, que foi Lino quem trouxe o alfabeto para a Grécia e moldou o formato das letras (Suid. s.v. λ 568; Diodoro Sículo 3.67), e não Cadmo, irmão de Europa e fundador de Tebas.

Fontes, iconografia, literatura e culto

As principais fontes sobre Lino são Hesíodo F 305-6 MW, Eurípides Héracles 348-51, Apolodoro 1.3.2 e 2.4.9; Pausânias 2.29.6-9, 8.18.1 e 9.29.6; Suidas s.v. λ 568-72; e Diodoro Sículo 3.67.

O tema da morte de Lino às mãos de Héracles foi utilizado pelos pintores de vasos de figuras vermelhas no século -V. Em um vaso atribuído ao Pintor de Erétria (fl. -440/-435), Lino foi representado como um velho professor com um pergaminho nas mãos e Museu como um jovem discípulo (Ilum. 0828).

É possível que o drama satírico Lino, de Aqueu de Erétria[2], tenha utilizado a lenda de Lino e Héracles (F 26), assim como fez Teócrito em seu poema épico Héracles Criança (24). Eurípides mencionou Lino brevemente no seu Héracles (348-51).

Além do culto em Argos, mencionado acima, havia perto do Monte Helicon, na Beócia, uma imagem de Lino em uma rocha oca, em forma de gruta, onde anualmente eram oferecidos sacrifícios e se cantava músicas tristes (gr. λίνοι) em sua homenagem. Os habitantes de Cálcis (Eubeia), por outro lado, afirmavam que o túmulo de Lino estava lá (Diógenes Laércio 1.4; Suidas s.v.).