Uma tabuinha de Cnossos, a KN V 52, datada provavelmente de -1400 ou
pouco depois, transcrita e traduzida por John Chadwick, traz o nome de quatro
divindades gregas, registrados no antigo dialeto micênico. A escrita é, naturalmente, a
linear B.
A KN V 52 — i.e. Cnossos, série de números sem ideogramas, número 52 — é uma
tabuinha-folha pequena, com apenas duas linhas, quebrada no canto superior
direito; havia, originalmente, uma pequena lacuna na linha inferior, completada
posteriormente por um pequeno fragmento (Fig. 0023).
A inscrição
Fig. 0023
a linear B
𐀀 𐀲 𐀙 𐀡 𐀴
𐀛 𐀊 𐄇
𐀁 𐀝 𐀷 𐀪
𐀍𐄇 𐀞 𐀊 𐀺
[𐀚𐄇]𐀡 𐀮 𐀅
transcrição
a-ta-na po-ti-ni-ja 1 [
e-nu-wa-ri-jo 1 pa-ja-wo-[ne 1] po-se-da-[o ?
na escrita alfabética
Ἀθάνα πότνια
αʹ [
Ἐνυάλιος
αʹ Παιαώ[νι
αʹ] Ποσειδά[ων ?
tradução
para a Senhora
Atena 1 [
para Eniálio 1 para Paia[n 1] para Poseid[on ?
Comentários
Como se vê pela transcrição para o grego do I milênio a.C., a inscrição contém
formas antigas do nome de quatro divindades conhecidas a partir de textos literários do
Período Arcaico:
Atena, deusa da sabedoria e da guerra estratégica;
Eniálio, antiga dividade que personificava a batalha, desde cedo assimilada a Ares;
Pean, antigo deus da medicina;
e Posídon, deus dos mares e dos terremotos.
A descoberta do fragmento que completou a linha inferior revelou aos epigrafistas
que o nome de Pean foi escrito no dativo, forma que exprime, entre outras coisas, a
atribuição. É possível, portanto, dada a imperfeição com que a linear B reproduz a
língua grega, que os demais nomes estejam também no dativo (Ἀθάναι
πότνιαι, Ἐνιαλίωι,
Ποσειδάονι);
daí a tentativa de tradução acima.
Não sabemos exatamente o que são as unidades que seguem o nome dos deuses;
referem-se, possivelmente, a dádivas do senhor do palácio aos templos ou
aos sacerdotes dessas divindades. Outra possibilidade, aventada por Chadwick (1977, p.
121), é que essa tabuinha era um simples exercício de escrita feito pelos escribas
novatos.