A errância de Odisseu

Odisseu (gr. Ὀδυσσεύς, lat. Ulisses) é um dos personagens mais célebres do ciclo troiano.

As maravilhosas aventuras e peripécias durante sua viagem de retorno a Ítaca, que demorous dez anos, foram imortalizadas por Homero no poema Odisseia e se tornaram um dos maiores legados da Antiguidade à cultura ocidental.

Partes do mito de Odisseu, como a convocação para a luta em Troia e sua decisiva participação no último ano da guerra e na queda da cidadela foram já relatados em outras sinopses.

Cícones e Lotófagos

Após a queda de Troia, os navios de Odisseu seguiram a frota de Agamêmnon mas, por causa de forte tempestade, separaram-se e chegaram à terra dos Cícones, aliados dos Troianos, no litoral da Trácia. Odisseu atacou e saqueou algumas cidades, mas acabou sendo repelido e retomou o caminho.

Forte ventania impeliu os navios ao país dos Lotófagos, os “comedores de lótus”, onde foram todos bem recebidos. Depois de algum tempo, a tripulação não queria mais ir embora, pois o delicioso lótus produzia o esquecimento e o desejo de ficar. Odisseu teve que levar seus homens à força para os navios e, após alguns dias de viagem, chegou à ilha dos Ciclopes.

O ciclope Polifemo

A ilha parecia um paraíso, com numerosos rebanhos de cabras selvagens e árvores frutíferas que floresciam constantemente sem necessidade de cuidados. Odisseu e alguns de seus homens abrigaram-se em uma gruta onde havia cabras e queijos, levando vinho para presentear quem lá encontrasse em troca da hospitalidade. O ciclope Polifemo, o dono da casa, era porém antropófago e, ao chegar, fechou a entrada com pesada pedra e devorou alguns companheiros do herói.

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Fig. 0280. O cegamento de Polifemo. Paris F 342, -500/-490

Odisseu, sem perder o sangue frio, logrou embebedá-lo e, enquanto Polifemo dormia, furou seu único olho com um tronco de ponta afiada. Quando o ciclope retirou a pedra para deixar sair o rebanho, todos escaparam escondidos embaixo dos animais.

Mas Polifemo era filho de Posídon e, com isso, Odisseu caiu no desagrado do deus.

Éolo e Lestrigões

A seguir os navegantes chegaram à ilha de Éolo, mestre dos ventos, que presenteou Odisseu com um odre que continha poderosos ventos e com uma suave brisa o impeliu diretamente a Ítaca. O herói adormeceu quando os navios se aproximavam da ilha e seus companheiros, pensando que o odre continha riquezas, abriram-no. Libertados, os ventos sopraram furiosamente e arremessaram-nos novamente à ilha de Éolo, que se recusou a ajudá-los de novo, uma vez que os deuses estavam tão claramente contra eles...

miniaturaA magia de Circe

Dias depois, os navios chegaram à terra dos Lestrigões, gigantes antropófagos que devoraram imediatamente o mensageiro enviado por Odisseu e lançaram enormes pedras sobre as naus. Apenas o navio de Odisseu conseguiu escapar, a toda velocidade, e mais tarde aportou em Eeia, ilha onde vivia a feiticeira Circe, filha de Hélio.

Circe e o hades

O grupo que desembarcou para reconhecer o terreno foi recebido amistosamente por Circe em seu maravilhoso palácio. A feiticeira ofereceu comida e bebida, a qual continha uma certa poção e, com sua varinha ágica, transformou todos em porcos e guardou-os no chiqueiro. Somente Euríloco, o líder do grupo, conseguiu escapar e avisar os demais.

Odisseu dirigiu-se destemidamente ao palácio, afim de libertar os companheiros. No caminho, Hermes o aguardava e fê-lo comer a planta moly, poderoso antídoto contra as poções de Circe, e aconselhou-o a ameaçá-la firmemente com a espada. Circe fingiu recebê-lo com hospitalidade e, ao se ver ameaçada pela espada depois da poção ter falhado, fez seus companheiros voltarem ao normal e hospedou a todos durante meses — ou anos. Segundo a tradição, a feiticeira enamorou-se de Odisseu e teve um filho dele, Telégono.

miniaturaOdisseu no hades

Quando Odisseu quis partir, Circe aconselhou-o a ir antes ao hades para consultar a sombra do adivinho Tirésias, o único que poderia confirmar se um dia encontraria o caminho para Ítaca.

O herói conseguiu chegar ao hades onde, além de Tirésias, encontrou a sombra de várias heroínas e de heróis já mortos, como Alcmena, Jocasta, Agamêmnon, Aquiles e Ájax, e também a de Anticleia, sua mãe, que ainda estava viva quando ele havia partido para Troia.

Tirésias profetizou o atribulado retorno de Odisseu a Ítaca e, de volta à ilha de Circe, a feiticeira ensinou-lhe a rota a seguir.

Sereias, Hélio e Calipso

De novo a caminho, o navio de Odisseu passou pelas sereias, cujo canto só não foi sua perdição porque a tripulação tapou os ouvidos; por Caríbdis, o gigantesco rodamoinho; por Cila, terrível monstro de várias cabeças que devorou alguns membros da tripulação, e finalmente chegou a Trinácia, ilha onde o deus Hélio guardava seus rebanhos.

Avisado por Tirésias, Odisseu proibiu os companheiros de mexerem nas reses do deus, mas os homens estavam tão famintos que, quando o herói adormeceu, mataram algumas vacas para se alimentar. Furioso, Hélio queixou-se diretamente a Zeus, que enviou uma tempestade que destruiu o último navio de Odisseu. Com exceção do herói, que não tocara nas vacas sagradas, todos pereceram.

A custo, Odisseu sobreviveu à tempestade, agarrado a um pedaço do navio. Depois de nove dias, chegou à ilha de Ogígia, lar da ninfa Calipso, que o acolheu, enamorou-se dele e o reteve ali durante nove anos. De acordo com variantes tardias da lenda, Odisseu e Calipso tiveram muitos filhos.