Graças a Sócrates (gr. Σωκράτης),
um dos maiores filósofos de todos os tempos, o interesse maior da Filosofia se
deslocou, no fim do século -V, do estudo da Natureza para o estudo do ser
humano e da ética.
Biografia
Nasceu em Atenas, por volta de -469. O pai, Sofronisco, era um modesto
escultor; a mãe, Fenarete, parteira. Na juventude, esteve interessado na Filosofia da
Natureza e chegou a estudar algum tempo com Arquelau (sæc. -V), discípulo
de Anaxágoras de Clazômenas (-500/-428). Lutou bravamente na Guerra do
Peloponeso em Potideia (-432/-430), Délio (-424) e Anfípolis
(-422).
Em -423, com mais de quarenta anos, era já figura popular em Atenas, tanto que
Aristófanes fez sua caricatura na comédia As Nuvens, de -423.
Feio e de pequena estatura (um
“sileno careca”, segundo a tradição), tinha, porém, a mente aguçada, lógica e
analítica. Argumentador rigoroso, bem-humorado, costumava submeter todos
os que se dispunham a ouvi-lo a uma série de perguntas muito bem dirigidas
até chegar a uma conclusão satisfatória que, em geral, punha em relevo a fragilidade
das opiniões de seus interlocutores. Logo reuniu um vasto círculo de inimigos, de
amigos e de jovens discípulos.
Busto de Sócrates
Em duas ocasiões, pelo menos, deu provas de inabalável força moral: após o episódio
das Arginusas (-406), na ocasião em que presidiu a Assembleia,
recusou-se a por em votação uma moção ilegal contra os estrátegos
atenienses, a despeito da pressão; e, na época dos Trinta Tiranos
(-404), recusou-se a prender um homem injustamente condenado
à morte.
Em -399, acusado de não cultuar os deuses da cidade e corromper a juventude, foi
julgado e condenado à morte. Preferiu não fugir da cidade, argumentando que isso seria
ilegal. Bebeu tranquilamente a cicuta, veneno usado em Atenas nas execuções, diante de
amigos e discípulos.
Pensamento e obra
Sócrates nada escreveu. Tudo o que sabemos de suas ideias se baseia nas informações
de dois discípulos e entusiasmados admiradores, Platão e Xenofonte, e pela caricatura
de Aristófanes.
Proclamado ‘o mais sábio dos homens’ pelo Oráculo de Delfos (Pl. Ap. 21a),
apresentava-se no entanto como um mero ignorante em busca da verdade: “só
sei que nada sei”, dizia. Ele acreditava que a virtude e os mais altos valores éticos
estavam profundamente arraigados no inconsciente das pessoas e comparava seu trabalho
de “extrair” as ideias ao de uma parteira (maiêutica socrática). Para que seus
interlocutores recuperassem o conhecimento “adormecido” e abandonassem as ideias
falsas, recorria à ironia: alegando nada saber, conduzia habilmente o
interlocutor até que ele mesmo, refletindo, chegasse à conclusão correta.
A julgar pelo testemunho de Aristófanes em As Nuvens, Sócrates chegou a ser
confundido com os sofistas, com os quais ele tinha, no entanto, múltiplas e
consideráveis divergências. Para Sócrates, o bem e a virtude eram consequências
naturais do saber. Assim, se o conhecimento levava à sabedoria, a prática da injustiça
e da maldade era apenas o resultado da ignorância; o mal nada mais era que a falta de
conhecimento do bem...
Além de Platão e Xenofonte, os mais conhecidos dentre os discípulos mais próximos de
Sócrates foram os políticos Alcibíades (-450/-404) e Crítias
(-460/-403), e os filósofos Antístenes (-445/-360) e Aristipo
(-435/-366).