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Editio princeps

A primeira edição impressa de um texto antigo, grego ou latino, que anteriormente existia somente em manuscritos medievais ou bizantinos, é tradicionalmente chamada de editio princeps, i.e., ‘primeira edição’.

A publicação dessas “primeiras edições” estão inseridas no renascimento cultural e humanístico da Renascença Europeia, fenômeno inicialmente restrito à Itália, à França e à Alemanha.

miniaturaa “aldina” do
corpus hippocraticum

Entre 1455, data da impressão da Bíblia de Gutemberg, e 1488, só foram impressos textos latinos (Cícero, César, Virgílio, Plauto, etc.). Em 1488, Demetrius Chalcondyles editou a editio princeps de Homero ('Ὁμήρου τὰ σωζόμενα , lit. O que se salvou de Homero), financiada pelos irmãos Nerli e publicada por Bartolommeo di Libri em Florença, nesse mesmo ano. A fonte grega foi desenhada pelo calígrafo Demetrius Damilas.

Alguns anos depois, a editio princeps de Hesíodo (só Os Trabalhos e os Dias, Florença, c. 1493) e a de Isócrates (Florença, c. 1493) foram publicadas; daí em diante, as primeiras edições de textos gregos apareceram em ritmo crescente.

Dentre as primeiras edições de textos gregos impressas na Europa, destacam-se as famosas edições Aldinas, preparadas em Veneza a partir de 1495 por Aldus Manutius (1449/1515) e por Lorenzo di Alopa. No século XVI, na Itália, na França, na Alemanha e na Suiça destacaram-se também as edições de Filippo di Giunta (Juntinas), as da família Estienne (sob o nome latinizado Stephanus), as de Johann e Hieronymus Froben e as de Hieronymus Commelinus.

Aldus Manutius foi, de longe, o mais prolífico de todos os editores renascentistas.

As edições Aldinas

Fig. 0101. Aldus Manutius.

A Editora Aldina foi fundada em 1495, em Veneza, por Aldo Pio Manuzio (1449/1515), usualmente conhecido pela forma latinizada do nome, Aldus Pius Manutius. Três gerações de sua família geriram a editora, que publicou textos clássicos até 1595. Aldus e seus sucessores, Paolo Manuzio e Aldo Manuzio, o Jovem, publicaram vinte e oito primeiras edições de textos gregos.

Devemos a Aldus Manutius a publicação de textos clássicos em volumes de formato menor, in octavo[1], relativamente baratos, e que na época tiveram impacto semelhante ao dos modernos livros de bolso, os pocket books. Devemos a ele, igualmente, o “tipo itálico”, criado por Francesco Griffo (1450/1518) em 1499 com a finalidade de economizar espaço (e não para enfatizar certas passagens do texto, como em nossos dias). O itálico apareceu pela primeira vez em uma edição de Virgílio, publicada em 1503.

Eis as características básicas das edições Aldinas de clássicos gregos:

  • capa dura;
  • na página de rosto, os dizeres In aedibus Aldi, ‘Editora Aldina’;
  • abaixo do sumário do volume (em grego e às vezes também em latim), quase sempre o colofão (âncora enlaçada por um golfinho);
  • miniaturacolofão das edições aldinas
  • prefácio em grego ou, mais raramente, em latim;
  • paginação relativamente simples, comparada à de outras publicações da época, com ornamentos pouco complexos no início do texto e na entrada dos capítulos;
  • a primeira letra do texto e dos capítulos em tipo maiúsculo, decorado como nos manuscritos medievais;
  • texto grego impresso em fonte especial, também criada por Francesco Griffo; embora ainda semelhante à escrita grega cursiva dos copistas medievais, esse tipo permitia leitura muito mais cômoda do que a dos manuscritos;
  • texto grego baseado em apenas um, ou em alguns poucos manuscritos;
  • ausência de notas e de aparato crítico.

A primeira editio princeps de obra grega publicada pela Editora Aldina foi a de Aristóteles, em cinco volumes, entre 1495 e 1498.