Foi um longo dardo que Cípris[1] cravou em seu fígado.
Mas o remédio ele o achou, sentando sobre altos
rochedos, e enquanto olhava o mar cantava assim:
Por que repeles quem te ama, ó alva Galateia,
mais alva de ser que a coalhada, mais macia que um cordeiro,
mais faceira que uma novilha, mais lustrosa que uva verde,
e te achegas assim quando o sono me domina
e te vais tão logo o doce sono me abandona,
fugindo como ovelha à vista de um lobo cinzento?
Eu me apaixonei por ti, menina, na primeira vez em que
vieste com minha mãe, que flores de jacinto colher
queria nas montanhas, e eu ia guiando o caminho.
Pôr fim a isso, após outras vezes ter-te visto, agora
não mais me é possível. Mas tu com nada te importas, por Zeus!
Notas
- Afrodite, assim como outros deuses, era muitas vezes evocada através de epítetos. Uma das versões de seu nascimento conta que ela nasceu perto da ilha de Citera, nas Cíclades; daí o epíteto ‘citereia’ (gr.
Κυθέρεια ). O culto a Afrodite tinha grande importância na ilha de Chipre e, por isso, a deusa era também chamada de “cíprica”, ou Cípris (gr.Κύπρις ).